Quando as escadas finalmente acessaram seu andar elas foram capazes de trazer o que ele finalmente precisava. O telegrama escrito através de protocolos digitais lhe indicou o caminho para apanhar um pacote que ele não tinha notícias há anos. O que havia dentro do mesmo ainda era uma incógnita incômoda, intrigado com o fato, achou que se tratava de alguma armadilha para dilacerar sua razão. Estava certo. No caminho lembrou-se da sala, do vento, das promessas e da gélida sensação que estava prestes a sentir, refletiu então que não se deparava com isso como antigamente. Ao receber a encomenda levou-a para seu poleiro. Passou horas analisando sua embalagem, florida, desbotada, delgada e proprietária de uma beleza duvidosa. As coisas que estavam escritas sobre sua superfície o impressionaram, eram exatamente tudo que ele desejava ler, harmoniosamente organizadas para lhe seduzir. Ficou confuso e receoso, pois o conteúdo daquele embrulho poderia ser exatamente o que lhe faltava. Mas como teria certeza? Como poderia ter a garantia que ali estava exatamente o que ele buscava? Impaciente com esse embaraço, resolveu fazer o que até então não lhe parecia óbvio, abriu aquela caixa que se prostrava inofensiva e ficou atônito com o que testemunhou. O que preenchia seu interior era seu coração. Estava em sua forma mais intensa, acolhedora e atraente. Mesmo fora do seu peito não parava de pulsar e jorrar para todos os lados seu fluido vital, desafiando-o a toma-lo de qualquer modo. Nunca havia assistido à um espetáculo tão colossal, mas da mesma forma improvável que sua chocante presença havia se revelado, ele se foi. Seu coração partiu misteriosamente deixando apenas um rastro de sangue e saudades. Sua reação? Simples. Correr vorazmente na direção do outro horizonte.
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