O brilho lunar níveo e tímido caminhava calmamente pelo meu
quarto naquela noite. A ausência já me fazia companhia há anos e eu já havia
condicionado meu pobre companheiro a essa situação. A penumbra que dançava
diante dos meus olhos, grunhia vorazmente o som da solidão. Lembro-me que nas
primeiras vezes esse som era algo aterrorizante, com o tempo ele se tornou algo
tão banal que de vez em quando até sentia falta dele. Apesar do clima pesaroso
que havia se instaurado no ambiente eu ainda me sentia vivo de alguma forma.
Porém, quando menos esperava fui visitado por minha criatividade, mas não a criatividade
capaz de guiar os apaixonados pelo impossível, por caminhos de incontáveis
possibilidades. Fui visitado pela criatividade que tortura, a criatividade que
maltrata, que nos afoga em nossas expectativas, que dilacera nossos sorrisos,
que esburaca nossa esperança, que nos trai, que nos esfacela contra o chão como
bestas esmigalhadas nas estradas, a criatividade que nos deixa na lona, que não
concede trégua, que amedronta sem motivos, que nos afasta do nosso melhor, que
não nos permite doar o nosso melhor, mesmo que tentemos desesperadamente, que
nos lança em um redemoinho de pessimismo e covardia, que nos faz rolar por um
desfiladeiro tenebroso de aflição, que não nos deixa respirar, que não nos
permite falar, que não nos concede nem ao menos o direito de derramar uma
singela lágrima, por mais que tentemos, mesmo sabendo que isso não funciona assim. Depois
dessa tortura involuntária imposta por minha mente, não me restou mais nada, a
não ser esperar pela próxima noite, pela próxima visita, pela próxima enxurrada
introspectiva de minha própria identidade.
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