quarta-feira, 17 de abril de 2013

Todos nós.


A mosca que se arrasta sobre meu rosto, a aranha que mora na conjunção da minha prisão, o mosquito que se oculta na estrutura do meu alívio, a barata que marcha pelo altar da comunhão, o rato que reside nos dejetos dos dejetos, o asco, a fobia, o desprezo. Nada é tão assustador quanto a fera que nos persegue em um sonho infindável, a fera com o olhar, propósito e essência assassina, a fera domável, e que mesmo assim, tem a condescendência de seu mestre para obliterar as vísceras alheias ao menor vestígio do odor intolerável do medo. No percurso de descida das sete camadas, um ancião nos revelou, em apenas poucos segundos, que ídolos incompreensíveis são nossa única chance de salvação. Colapsos doentios se espalharam com violência sobre a multidão e o caos e o terror reinaram. Ferragens animadas fragmentaram e pulverizaram a carne, oradores impecáveis se esquivaram do fardo, anunciações populares prestaram adoração à indignação, a massa sofreu, a ceifa agiu e o intervalo contínuo não testemunhou nada de novo. E diante desse destino, ao compreender que o todo se deteriora ao nosso redor, e que, na promessa de vingança, a humanidade aceita e se alimenta dessas nefastas e tardias carnificinas, os justos choraram.

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