A mosca que se arrasta sobre meu rosto, a aranha que mora na
conjunção da minha prisão, o mosquito que se oculta na estrutura do meu alívio,
a barata que marcha pelo altar da comunhão, o rato que reside nos dejetos dos
dejetos, o asco, a fobia, o desprezo. Nada é tão assustador quanto a fera que
nos persegue em um sonho infindável, a fera com o olhar, propósito e essência assassina,
a fera domável, e que mesmo assim, tem a condescendência de seu mestre para
obliterar as vísceras alheias ao menor vestígio do odor intolerável do medo. No
percurso de descida das sete camadas, um ancião nos revelou, em apenas poucos
segundos, que ídolos incompreensíveis são nossa única chance de salvação. Colapsos
doentios se espalharam com violência sobre a multidão e o caos e o terror
reinaram. Ferragens animadas fragmentaram e pulverizaram a carne, oradores impecáveis se
esquivaram do fardo, anunciações populares prestaram adoração à indignação, a
massa sofreu, a ceifa agiu e o intervalo contínuo não testemunhou nada de novo.
E diante desse destino, ao compreender que o todo se deteriora ao nosso redor,
e que, na promessa de vingança, a humanidade aceita e se alimenta dessas nefastas
e tardias carnificinas, os justos choraram.
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