Deslizei quarenta minutos pelo subterrâneo para encontrar um
simpático texugo que me deu como tarefa a busca por um papiro. Caminhei por uma
cidade inteira, atravessei um rio leitoso, escalei oito lances de escada, encontrei
espíritos em procissão, transpassei um presidente, entrei em uma catedral,
corri pelo século XVII, assisti um coro juvenil, testemunhei um brado imperial,
me acomodei na antiga morada de uma rainha, vislumbrei paredes banhadas a ouro,
ajoelhei-me diante de um anjo, olhei para minha infância, me perdi em novecentos
e oitenta e sete títulos, apartei o conflito de burocratas, me alimentei ao
lado de anciões ignorantes, me indignei com o desejo, observei o cavaleiro de
metal, andei por corredores de madeira, conversei com desconhecidos, vi a
pobreza, vi a indiferença, vi o vício, e por fim, ouvi sinos que me delataram o
caminho, e no alto de uma montanha, dentro de um baú, em cima de um
travesseiro, enrolado peculiarmente, estava o papiro que o texugo havia
mencionado. Levei imediatamente o artefato para o animal, que com uma piscadela
e um sorriso satisfeito, apanhou aquele singelo objeto e disse: “Pronto, agora
a culpa é toda sua.”.
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