domingo, 10 de março de 2013

No fim.


Não havia dia lá, somente a escuridão. Não era possível contabilizar o tempo, fato que me levava a uma confusão incomum, já que até ali eu havia sido adestrado a seguir as mazelas impostas pelo mesmo.  Acima de minha cabeça era possível contemplar um céu coalhado de estrelas, o que de alguma forma me trazia esperança. Porém era uma caminhada estranha, não sabia para onde estava indo, mas meus pés continuavam insistindo em me conduzir para algum lugar. No fim acho que não havia outra opção. Praticamente todas as iniquidades fisiológicas eram ausentes lá, mas eu continuava recheado de sentimentos, era o que restava. Existiam outras pessoas que faziam essa caminhada, porém elas pareciam não ser agraciadas com o dom da comunicação, pareciam todas conformadas com a procissão de tom fúnebre que se desenvolvia ali. A maioria era proprietária de olhares e expressões indiferentes. Além das pessoas, nos acompanhava um uivo constante proveniente do vento, hora quente, quando soprava contra nosso rosto, hora gélido, quando parecia nos empurrar, como se estivesse dando forças para que a caminhada se concluísse. Consegui entender que aquele local se tratava de um deserto, mas não esses de dunas altas e areia pálida, se tratava de um desses desertos de pedras, com um solo rígido e que maltrata os pés e o corpo de quem acaba pisando ou tropeçando em alguma rocha no caminho. Essa era outra coisa possível de ser sentida ali, dor. Todo meu corpo já estava exaurido, os pés ardendo, pois suas solas já haviam se tornado carne, mas por algum motivo desconhecido era impossível parar e descansar. Em dado momento pode ser visto de longe uma luz. Essa luz emanava da terra, e era avermelhada como fogo. Aproximando-se do local, foi possível perceber que essa luz era proveniente de uma enorme cratera cravada no meio da paisagem. Foi então que eu percebi que esse era meu destino, todos que ali estavam caminhavam para aquele imenso buraco. Quando meus pés finalmente me fizeram alcançar a beira da cratera, vi o quanto ela era profunda e dona de uma forma cônica, como um funil, seu fim era como a boca de um vulcão e labaredas de fogo saiam do centro da cavidade. Esse era o destino de todas as pessoas que vinham caminhando de todas as direções do deserto. Não sei discernir o que, mas algo me empurrou para dentro daquele pesadelo, e comecei a deslizar pela superfície escorregadia daquela abertura, feita de areia negra e rochas pequenas e médias, diretamente para o abismo de fogo. Testemunhei inúmeras pessoas lutando contra aquela queda, era uma imagem desesperadora, muitas daquelas pessoas choravam e tinham a mais verdadeira expressão de pavor estampada em seus rostos. De dentro do buraco flamejante era possível ouvir gritos, berros e urros aterrorizantes. De tempos em tempos uma lufada extremamente quente vinha de lá, fazendo com que nossos corpos se inflamassem. Nada mais podia ser feito naquele momento, não importa o quanto nós lutássemos todos, invariavelmente, caiam no olho de fogo daquela fissura. Eu, por minha vez, decidi abrir os braços e receber de peito aberto o caminho que escolhi.

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