quinta-feira, 29 de maio de 2014

Meu mergulho.

E se eu me entregasse? E se eu me conformasse com o mundo em que vivo e mergulhasse de cabeça nessa realidade transitória? E se eu me desapegasse das coisas que hoje eu acho fundamentais e verdadeiras e começasse a caminhar rumo ao mundo que todos vivem? Eu largaria o que faço, teoricamente por prazer, e iniciaria atividades para me agregar mais e mais à rotina determinada pelo sistema. Estudaria as nuanças requeridas para escalar até o cume que me seria determinado, pois há um limite lógico do que se pode ou não fazer nesse estado de subvida. Seria admirado por pessoas que também bebem dessa fonte, viajaria para lugares distantes, para me alimentar de informações pertinentes para poder fazer as engrenagens continuarem funcionando exatamente como o previsto. Acordaria nos mesmo dias, para andar sobre os mesmos calçados, para assistir as mesmas cenas, para proclamar as mesmas orações, para receber em troca disso uma quantidade fixa de algo virtual e convencionado como necessário para sobreviver. Talvez um dia, depois de vinte ou trinta anos, eu estivesse em alguma posição respeitável aos olhos da massa. Me apegaria certamente a alguns prazeres fugazes para poder segurar a onda dessa arrebentação constante, e no fim, tudo sairia como o que sempre foi, é e será para os que vivem assim. Poderia encontrar alegria nisso. Tenho minhas dúvidas. Mas do que adiantaria essa dança toda, se tudo isso não passa de uma realidade transitória? O contra ponto a isso é o desejo de viver algo diferente e me entregar de fato ao que me agrada como tarefas cotidianas. Sempre achei que se tratava de como nos enxergamos e do que valorizamos de fato em nossa jornada. Mergulhar de cabeça nessa convicção é muito mais difícil, pois a plataforma de saída é bem mais alta. Ela esta alocada em um lugar onde muitos gostariam de ir, mas que o senso comum tenta nos convencer que é inalcançável e perigoso. Sedutor para uns, ameaçador para outros. Viver esse risco é desafiar os próprios conceitos enraizados nesse mundo estranho.  Pode ser que no final, esse mergulho se transforme em uma tragédia, pontuada por alguma rocha oculta pelas águas dos sonhos. Uma coisa eu sei, não o fazer é ir contra tudo que acredito, é ir contra quem eu sou, é desistir de ser alguém de fato, e de viver uma realidade transcendente, não transitória. 

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