sábado, 29 de março de 2014

Em meu jardim.

O que completa nossa essência? Parti em uma busca ávida pela resposta desse tratado filosófico, até então impossível de ser solucionado. Embrenhei-me no emaranhado de possibilidades do universo, contemplei nove sois poentes enquanto vagava por paisagens desconhecidas, foi-me oferecido banquetes e fui festejado pelos que congregam de um passado comum ao meu. Lutei ao lado de amores fraternos construídos pelo tempo e pela embriaguez, testemunhei a distancia imposta entre todos nós, mas nunca me lamentei por isso. Foram-me revelados frutos proibidos nessa jornada, nunca fui alertado sobre esse perigo. Ao experimentar suas texturas tive a alma envenenada e minha face marcada com expressões pesarosas e mórbidas. Nesse processo de experiências peculiares, a manifestação mais sincera do meu ser foi suprimida. Restou-me o silencio e a solidão. Senti-me pela primeira vez abandonado pela vigor da esperança e me convenci aos poucos de que essa longa estrada seria trilhada por um ensaio introspectivo de reflexões turvas e melancólicas. Segui então a curva confusa do meu destino e me convenci que somente um momento que fosse capaz de desviar-se do tempo seria capaz de me salvar. Esse momento chegou. Foi-me revelado então, por profecias deslembradas, que nossa essência se completa em nós mesmos. Parti então novamente em uma jornada, mas dessa vez não em busca de soluções, mas sim em busca de mim mesmo, do meu próprio encontro. Entre tormentas e batalhas sistemáticas contra semelhantes que não me desejavam nada, uma conspiração universal me levou até um jardim. Esse cenário natural era simples, porém emblemático. Localizava-se em uma paragem familiar, era retangular e amplo, cercado por rochas acinzentadas e desgastadas pelo tempo. Era composto apenas por uma grama verde clara, aparada a alguns poucos centímetros de um solo visivelmente fértil. Em seu centro, reluzente e majestosa estava uma única flor. Uma tulipa de um vermelho intenso, emanava de si mesma uma luz tão forte que era capaz de ofuscar-me os sentidos e apagar toda a dor do meu passado. A harmonia irrefutável entre o jardim e sua única habitante, me fizeram entender que, naquela manifestação impar de beleza e suavidade, eu finalmente me encontraria. Foi despertado em mim, de algum limite longínquo de meu espírito, meu mais sincero sorriso, e novamente meu coração pulsou. Cada instante que eu vivia naquele inóspito e pacifico canto do mundo, na companhia daquele ser magnifico, o encontro comigo mesmo se tornava mais real e explicito. Em alguns momentos o silêncio ainda se fazia presente, mas não me assustava mais, pois seu caráter constrangedor havia morrido. A solidão não era mais uma realidade palpável, somente uma memória estranha e anuviada, que foi sedimentada pela inundação da paz que eu encontrava ali. Ficou claro então, que cada passo da minha caminhada havia sido dado com o único propósito de me guiar até o despertar que aquele jardim me propiciava. Daquele momento em diante não haveria mais hesitação, se fosse necessário, eu caminharia para dentro do sol para viver a felicidade plena que aquele lugarejo e aquela singela tulipa me proporcionavam. Dei-me conta que a finitude universal de todas as coisas me ajudariam a manter o foco em busca da eterna dedicação para manter aquele jardim sempre vivido e sua peça vegetal central graciosa, voluptuosa e majestosa, como ela deveria sempre ser. Esse se tornou meu objetivo, por hora o cumpro bem. Hoje, as estações passam através de nossa essência, nos dão a certeza que essa conjunção existencial é originária de uma atmosfera distante, mas em nenhum momento torna essa manifestação passional trivial. Não importa qual foi meu caminho ou quantos foram os meus prantos, me encontrei nesse jardim, ele se tornou meu, e aqui, com toda a energia que alaga minha alma, cultivo a mais bela forma da natureza universal. Agora eu estou completo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário