Existem coisas que se materializam em nossas vidas e nos preenchem de sentimentos indescritíveis. Apesar da ansiedade pungente por resposta sobre a origem da maioria delas, por muitas vezes, nós não somos perspicazes para desvendarmos esse mistério. Lembro-me bem de uma de nossas conversas em que despretensiosamente comecei a abrir meu coração para você. Foi um dos primeiros momentos que me senti profundamente encorajado a falar de peito aberto e sem medo, de coisas que rondavam e rondam minha mente perturbada e meu coração despendido. Em uma dessas noites tórridas compartilhei com você pensamentos que nunca haviam se consolidado em qualquer espécie de palavra, e que sempre estiveram reclusos nos caminhos tortuosos das minhas reflexões e sentimentos. Confessei a você naquele instante, que o que eu menos desejo para as pessoas é que sobre elas recaia o mesmo sentimento intenso de solidão que vinha me sufocando ao longo da vida. O verdadeiro caráter da solidão nunca é singular. Não lhe compreende simplesmente sua definição denotativa, mas sim toda e qualquer experiência solitária manifestada sobre o rebanho de seres que pairam nesse mundo. A mim, até o presente momento, coube descobrir algumas dessas facetas. Um desses temerosos aspectos que se revelaram para mim, que por sinal nunca achei que fosse me acometer, foi a ausência do amor. Mas depois de tantas idas e vindas essa maldição dolente me atingiu. Passei a crer com tamanha fé nesse meu destino moribundo, que sequei toda esperança que habitava em mim. A mesma esperança que outrora me preencheu de benevolência, paz e retidão, se apagou como uma fogueira extinta em suas pobres brasas e farelos acinzentados. Essa convicção torpe fez com que meu caminho se dispusesse em eventos efêmeros e relações completamente irrelevantes. Fez com que eu acreditasse cada vez mais que meu destino seria a reclusão em mim mesmo, o vazio completo, os prazeres fugazes e a rotina lancinante de uma vida nebulosa. Mas sempre somos surpreendidos. Os aspectos originais que fizeram com que conversas rotineiras se tornassem em um interesse mútuo por nossas individualidades ficarão incógnitos no tempo. Mas como já lhe disse, isso é o que menos importa. O que para mim se manifestou de forma determinante nesse encontro harmonioso, foi a capacidade que encontrei em você de despertar novamente em mim a adormecida e esquecida vontade de seguir em frente, de deixar para trás as mazelas vividas e poder recomeçar tudo, com o espírito revigorado e com o coração restaurado por bons sentimentos. Sentir isso é indescritível. Que a encruzilhada que sentenciou o encontro de nossas almas, nos leve a veredas pacificas, a rincões de felicidade, ao encontro essencial do ser, e que diante disso, por justiça e reconhecimento das forças que regem o universo, você nunca seja assolada pela ausência do amor.
sábado, 29 de março de 2014
Superação.
A solidão às vezes nos traz algo que raramente encontramos em nosso dia a dia, a serenidade. E a serenidade que esse momento nos traz é a própria resposta para muitas questões que acabam nos deixando aflitos e, por algumas vezes, perdidos. Ela nos confere um caráter peculiar de pensamento, expressado unicamente na capacidade de reflexão. Bem, nesse momento, algumas estradas nos são abertas. Por experiências passadas acabo tendo ciência que devo sempre me lembrar de quem eu sou e do que está guardado dentro de mim, dos meus sentimentos mais superiores, das minhas maiores marcas, do que vem regendo minha vida e me fazendo sempre escolher um desses caminhos. Nem sempre a via mais coerente foi a escolhida, mas em todas elas batalhas necessárias foram travadas. Minhas armas para essas batalhas? Alegria e esperança. Curiosamente, isso jamais foi sedimentado no meu espírito. Por inúmeras vezes os labirintos em que essas bênçãos foram ocultas foram desbravados somente por mim. Estar só nesses momentos nunca tornou essa busca mais fácil. Hoje, porém, sou agraciado pela convicção de que nunca mais vivenciarei esse estado. No meu próprio encontro, recebi outro coração para afastar de mim as angustias e dúvidas que antecedem o momento da escolha por uma nova trilha. Esse novo coração veio junto com uma alma que me ilumina, com palavras que me confortam, com um sorriso que me renova e com uma vida para ser compartilhada. Esse coração veio com um amor que é composto das coisas mais belas que as pessoas são capazes de manifestar. Assim, tenho certeza, que na plenitude desse encontro, a superação sempre estará a um passo.
Em meu jardim.
O que completa nossa essência? Parti em uma busca ávida pela resposta desse tratado filosófico, até então impossível de ser solucionado. Embrenhei-me no emaranhado de possibilidades do universo, contemplei nove sois poentes enquanto vagava por paisagens desconhecidas, foi-me oferecido banquetes e fui festejado pelos que congregam de um passado comum ao meu. Lutei ao lado de amores fraternos construídos pelo tempo e pela embriaguez, testemunhei a distancia imposta entre todos nós, mas nunca me lamentei por isso. Foram-me revelados frutos proibidos nessa jornada, nunca fui alertado sobre esse perigo. Ao experimentar suas texturas tive a alma envenenada e minha face marcada com expressões pesarosas e mórbidas. Nesse processo de experiências peculiares, a manifestação mais sincera do meu ser foi suprimida. Restou-me o silencio e a solidão. Senti-me pela primeira vez abandonado pela vigor da esperança e me convenci aos poucos de que essa longa estrada seria trilhada por um ensaio introspectivo de reflexões turvas e melancólicas. Segui então a curva confusa do meu destino e me convenci que somente um momento que fosse capaz de desviar-se do tempo seria capaz de me salvar. Esse momento chegou. Foi-me revelado então, por profecias deslembradas, que nossa essência se completa em nós mesmos. Parti então novamente em uma jornada, mas dessa vez não em busca de soluções, mas sim em busca de mim mesmo, do meu próprio encontro. Entre tormentas e batalhas sistemáticas contra semelhantes que não me desejavam nada, uma conspiração universal me levou até um jardim. Esse cenário natural era simples, porém emblemático. Localizava-se em uma paragem familiar, era retangular e amplo, cercado por rochas acinzentadas e desgastadas pelo tempo. Era composto apenas por uma grama verde clara, aparada a alguns poucos centímetros de um solo visivelmente fértil. Em seu centro, reluzente e majestosa estava uma única flor. Uma tulipa de um vermelho intenso, emanava de si mesma uma luz tão forte que era capaz de ofuscar-me os sentidos e apagar toda a dor do meu passado. A harmonia irrefutável entre o jardim e sua única habitante, me fizeram entender que, naquela manifestação impar de beleza e suavidade, eu finalmente me encontraria. Foi despertado em mim, de algum limite longínquo de meu espírito, meu mais sincero sorriso, e novamente meu coração pulsou. Cada instante que eu vivia naquele inóspito e pacifico canto do mundo, na companhia daquele ser magnifico, o encontro comigo mesmo se tornava mais real e explicito. Em alguns momentos o silêncio ainda se fazia presente, mas não me assustava mais, pois seu caráter constrangedor havia morrido. A solidão não era mais uma realidade palpável, somente uma memória estranha e anuviada, que foi sedimentada pela inundação da paz que eu encontrava ali. Ficou claro então, que cada passo da minha caminhada havia sido dado com o único propósito de me guiar até o despertar que aquele jardim me propiciava. Daquele momento em diante não haveria mais hesitação, se fosse necessário, eu caminharia para dentro do sol para viver a felicidade plena que aquele lugarejo e aquela singela tulipa me proporcionavam. Dei-me conta que a finitude universal de todas as coisas me ajudariam a manter o foco em busca da eterna dedicação para manter aquele jardim sempre vivido e sua peça vegetal central graciosa, voluptuosa e majestosa, como ela deveria sempre ser. Esse se tornou meu objetivo, por hora o cumpro bem. Hoje, as estações passam através de nossa essência, nos dão a certeza que essa conjunção existencial é originária de uma atmosfera distante, mas em nenhum momento torna essa manifestação passional trivial. Não importa qual foi meu caminho ou quantos foram os meus prantos, me encontrei nesse jardim, ele se tornou meu, e aqui, com toda a energia que alaga minha alma, cultivo a mais bela forma da natureza universal. Agora eu estou completo.
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