Novamente me encontro com o tempo. Entorpecido e entre almas alucinadas, sigo com cautela por um solo estéril e melancólico. A tempestade áspera e tórrida que cai sobre nossas cabeças é o anúncio de mais uma jornada lamuriosa que está apenas começando. Encaro com a força que me resta a mesma sequencia de fatos e gestos perversos que são despejados em nossos corpos como uma pilha de entulho que deve ser suportada e digerida a qualquer custo. Em supostos momentos de alívio tenho o privilégio de contemplar o ópio da minha essência que se materializa em uma única natureza, mas não posso desfrutá-lo em paz absoluta, pois imediatamente sou sufocado por dogmas e contrassensos. Um breve intervalo orgânico para meditar. Volto para seguir lutando, caindo e rastejando entre as eternas divisões cíclicas, para que ao fim eu possa ter mais um breve período de fuga. Mesmo sendo extremamente prazeroso o último trago não é o suficiente e eu só consigo desejar mais e mais. Profano meu templo, pois já não há mais nenhuma intenção de prioridades em mim. Escalo para fora desse fosso em busca de mais fôlego, mas só construo novamente em meu imaginário, cenários que nunca viverei. Reflexivo, me aprisiono em um labirinto e acabo caindo em um lapso conturbado e insuficiente. Geralmente, quando meu inconsciente me resgata, ele me revela verdades e desejos adormecidos, e finalmente sou capaz de entender que não importa o trajeto que eu tome, não importa o que o destino guardou para mim, não importa a trilha misteriosa que desponta à minha frente, amanhã, mais uma vez, todos os caminhos me deixarão a um passo do abismo.